Comissão de Direitos Humanos ouviu relatos de violência praticada por policiais militares contra casal nordestino; inquérito foi instaurado.

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou, nesta quarta-feira (21), audiência pública para apurar denúncias de abuso policial, tortura, tentativa de homicídio e xenofobia praticados por policiais militares em Uberaba, no Triângulo Mineiro.
De acordo com os relatos apresentados, Antônio Marcos Bezerra das Neves teria sido levado a um canavial no dia 30 de abril, onde sofreu espancamento, fratura na costela e disparos de teaser na região genital. A esposa dele, Maria Aparecida Lopes de Moura, também relatou ter sido agredida com tapas que comprometeram sua audição. O casal afirma ter sido alvo de insultos xenofóbicos, com frases como “Por que você não volta para o buraco que você saiu, que é o Maranhão?”, durante as agressões.
Em novo episódio, no último sábado, Antônio foi baleado à queima-roupa após perseguição policial. No veículo estavam também um adolescente de 14 anos com transtorno do espectro autista e outros familiares. A deputada Bella Gonçalves (Psol), presidenta da Comissão, afirmou que o disparo atravessou o pênis da vítima e se alojou na coxa, conforme registro médico.
Os episódios ocorreram após reuniões do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do qual o casal faz parte. Segundo os relatos, a Polícia Militar deteve o casal de forma arbitrária e os manteve incomunicáveis por horas. A PM não informou o paradeiro dos detidos nem reconheceu a existência de operação formal. O comandante da 5ª Região da PM em Uberaba, coronel Rodrigo Wolf Luz, afirmou que a abordagem foi feita por uma viatura de trânsito e que um inquérito policial militar foi instaurado.
A Polícia Civil registrou termo circunstanciado contra o casal por resistência à prisão e investiga a acusação de porte ilegal de arma. O chefe do 5º Departamento da Polícia Civil, Cezar Felipe Colombari, informou que o inquérito para apurar tentativa de homicídio ainda depende do depoimento da vítima.
Durante a audiência, deputados trocaram críticas sobre a condução do caso. Parlamentares do PL acusaram a comissão de pré-julgamento e defenderam os policiais. Já deputadas da esquerda cobraram rigor na apuração e defenderam o uso obrigatório de câmeras em uniformes policiais para coibir abusos.
A Comissão de Direitos Humanos afirmou que acompanhará o caso até sua completa apuração.